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quinta-feira, 5 de maio de 2011

AC/DC - Antes de Ceni/Depois de Ceni

Nem mesmo o mais sonhador torcedor tricolor poderia imaginar uma apoteose tão perfeita. Os deuses da bola reservaram o dia 27 de março de 2011, aproximadamente 17h10, 9 minutos do segundo tempo de jogo. Escolheram a dedo, com carinho para que o primeiro gol de falta de Rogério Ceni contra o arqui-rival Corinthians fosse o centésimo de sua carreira. A bola está parada, não na marca da cal como fizera um dia o milésimo o maior de todos, Pelé. Ela está onde ele mais gosta ou como mesmo definiu: "Como tudo começou". A tensão e a situação tirariam qualquer um do sério, mas não Rogério Ceni. Não é um sujeito que trabalha com a sorte. Não tem um dom, apenas dedicação ferrenha àquilo que se propôs a fazer da vida. Todos no campo e na telinha, exceto os alvi-negros corintianos, torcem e sonham para que a bola entre. Ele, o M1T0, se concentra. A maioria das vezes é, como desta vez, a única chance em 90 minutos para fazer o que os demais jogadores podem fazer a todo instante. Nesse caso, um lance para cravar seu nome mais uma vez na história do futebol mundial.

Rogério Ceni é a mais fiel tradução do significado da palavra Ídolo. Funcionário exemplar, não saem notícias de que faltou a um treino, reclamou de algum companheiro ou do clube que paga suas contas, de que foi visto bêbado ou em um baile funk. Jamais vestiu outra camisa senão a do clube do coração. Conquistou todos os títulos possíveis que um jogador de futebol pode almejar: Estadual, Brasileiro, Libertadores, Mundial sendo eleito melhor em campo, Copa do Mundo e maior Goleiro-Artilheiro da história, pra ficar nos mais importantes. Como se isso não bastasse, ele ainda pediu You Shook Me All Night Long (AC/DC) no Fantástico! (http://www.youtube.com/watch?v=NJv_JjzFGdE). Nada de pagode, axé, sertanejo ou música gospel, é Rock and Roll babe!

"Goleiro fazer 100 gols é mais difícil que atacante fazer 1000 gols" - Milton Neves. Embora não seja simpatizante de tal jornalista, talvez realmente seja verdade sua afirmação. Até agora Romário e Pelé fizeram 1000 gols, enquanto apenas Rogério Ceni conseguiu fazer 100 gols. Sem contar que Túlio Maravilha continua em ação, aceitando todo tipo de amistoso para chegar ao milésimo! Em tempo, antes que invejosos de plantão se manifestem, não estou aqui comparando coisas incomparáveis, apenas relatando fatos. Pelé foi o maior de todos independente do quesito que se avalie. Abençoados foram nossos pais e avós que o viram desfilar com a 10 do Santos e da Seleção Brasileira.

Respeitar e reverenciar ídolos é algo que não estamos muito acostumados a fazer. Achamos, com excessiva frequencia, que a "grama dos outros é sempre mais verde que a nossa". Americanos e europeus sem dúvida nenhuma o fazem infinatamente melhor que nós. Basta visitar o museu do Santiago Bernabéu ou do Camp Nou para entender a importância que os clubes dão a sua história. Benditos nós, brasileiros e não apenas tricolores, poder ver um expoente tão singular da história do esporte bretão em plena atividade. Está aí, no Morumbi ou na TV todas as semanas, a oportunidade de aprender a valorizar o que é nosso.