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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Minha primeira "Long distance"

Não fiz o podcast como inicialmente planejado. Tive medo. Não sei especificamente do que, mas provavelmente da distração. Moto não é como carro, não dá pra coçar as costas ou ouvir aquela música que você gosta enquanto pilota. Administrar uma máquina de duas rodas com mais de 200kg no braço exige perícia, prudência e muita atenção.

Calça de motoboy contra a potencial chuva, botas com biqueira de aço e solado anti-derrapante recém adquiridas, neck para controlar o frio do vento na cara, jaqueta antiga mas virgem e uma oração como proteção. Era tudo que eu tinha naquela sexta pela manhã ao ligar os motores da minha moto. Jamais havia tomado uma estrada com previsão de pilotar por mais de meia hora pela frente. Aula teórica de pilotagem em grupo ministrada pelo sogro na noite anterior e pé, ou melhor, mão na estrada.

Saímos Pedro, eu e Bernardo, nessa ordem rasgando a BR 040 sentido Rio de Janeiro. Nosso destino era Petrópolis, encontro nacional da Harley Davidson Brasil em 2010. Na saída, como que para efetivar o batismo, um transporte ilegal de carga nos brinda com um congestionamento cansativo para o braço esquerdo. O tempo, em contra partida, ajuda. A chuva ameaça mas não cai, o que contribui bastante para o bem estar de motociclistas equipados como nós.

Passado o primeiro empecilho, encaramos 1h30 a uma velocidade média de 100km/h até a primeira parada no Roselanches, proximidades de Barbacena-MG. Parada para abastecer, encontrar outros aprceiros de estrada, ir ao banheiro, comer um pastel e principalmente esticar o lombo. As nádegas sofrem com a baixa circulação enquanto costas, braços e pernas reclamam da posição do corpo ou da manete do câmbio. Em viagens de moto recomenda-se uma parada a cada 1h ou 1h30. A justificativa é que as dores podem fazer com que você preste menos atenção aos percalços do caminho, com consequencias tão imagináveis quanto trágicas. Incrível o que uma paradinha estratégica e rápida é capaz de fazer, reinicializa seu sistema e te deixar apto para os próximos 100-150km.

A segunda parte da viagem, a mais bonita, foi tranquila. Pude desfrutar melhor da sensação de liberdade que só pilotar uma moto pode proporcionar. Contemplar a linda vista da serra carioca depois de Juiz de Fora-MG e torcer para a gasolina não acabar foram os dois últimos prazeres antes de chegar a Petrópolis-RJ. Primeira etapa completada, quase 400km sem contar a volta, era hora de bacalhau e vinho verde português para celebrar e planejar as próximas viagens.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mudanças de uma vida

Em números, friamente, é a quinta vez que muda de cidade, décima oitava de endereço completo com CEP. Em pouco mais de 30 anos de vida, as médias são, aproximadamente, 1 cidade a cada 6 anos e 1 casa/apartamento a cada 2 anos. Nômade parece o apelido mais apropriado, embora nunca tivesse sido efetivamente empregado. Apelidos, aliás, também merecem registro estatístico - somam 4 no total.

Nasceu em Foz do Iguaçu-PR, divisa com Ciudad del Este-Paraguai (na época Puerto Stroessner) e Puerto Iguazu-Argentina. Foz é uma cidade pequena, mas com inúmeros encantos. Paraíso do comércio internacional praticamente livre de impostos, santuário da Mãe-Natureza e grande produtora da energia que move o país são adjetivos que a engrandecem a ponto de ser definida, de certa forma, grande. Ali teve infância e adolescência intensamente vividas, personalidade definida e objetivos, embora não muito claros, traçados.

O vestibular se aproximava e uma solução drástica era necessária, mudar de cidade pela primeira vez. Uberaba-MG, triângulo mineiro, terra do gado zebu e do temido colégio Zé Ferreira. De segunda à sábado, sendo que duas vezes por semana em dois períodos, esse foi o ritmo de estudos durante todo o ano de 1996. Exercício físico apenas uma vez por semana, almoço com avós paternos outro dia e estudar muito, era basicamente a agenda de uma semana típica. Além da Expozebu, tradicional evento que agita a cidade anualmente em maio, não teve muito tempo para explorar o que o berço dos seus pais tinha a oferecer, já era tempo de seguir para a próxima escala.

Campinas-SP era, no início de 1997, para alguém vindo do interior do Paraná, a síntese da cidade grande: Oferecia de tudo, inclusive um punhado de medo aos que vinham do interior. Junto com a primeira semana, veio o primeiro assalto, bastante animador para alguém na casa dos 17 anos de idade. Campinas lembra em parte a capital do estado onde nasceu, sociedade fechada, elitizada, que não se considera do interior. Se a capital é São Paulo, teria ali um braço de mar? A cidade teve papel importante, decisivo em sua formação como pessoa e profissional. Ali construiu laços eternos de amizades verdadeiras. Ali também, no centro da cidade, encontrou os primeiros desafios da vida: pela primeira vez estava realmente sozinho, o primeiro emprego, a primeira perda (http://bit.ly/c5axLv), inúmeras decisões e muito crescimento.
Em cidade grande tudo acontece muito rápido e, quando menos esperava e nunca imaginara, Campinas ficara pequena. Haviam, então, apenas duas alternativas: Anhanguera ou Bandeirantes, ambas com um único destino, São Paulo-SP. A cidade em si já não assustava no quesito tamanho mas desafiava, incentivava a levar sua vida, principalmente profissional, a um outro nível. A capital paulistana fervilha como poucas outras no mundo e, me perdoem os fãs da Big Apple, é de fato e de direito a cidade que nunca dorme. Quando já não achava possível formar outra turma de amigos como outrora em Foz e Campinas, veio a grata surpresa de novas amizades para a vida toda

Viver longe da família de sangue o fez contabilizar, até aqui, três ou quatro outras famílias por pura escolha, afinidade. A certeza de não se sentir só em vários cantos do mundo é resultado de amizades bem aproveitadas, vidas compartilhadas e histórias pra contar (http://bit.ly/cD18Sd).

Mas a vida, assim como o futebol, é uma caixinha de surpresas. Quando as mudanças pareciam não ter mais um porquê, eis que o sentido é criado e novas mudanças pintam. Embora não exista mudança similar à anterior, essa última tem motivação muito distinta de todas as outras. Enquanto estudos e objetivos de cunho profissional nortearam as andanças até aqui, o coração resolveu tomar as rédeas da situação e, de certa forma, selar o destino. Belo Horizonte-MG é famosa por seus morros e bares, assim como pela hospitalidade e "jeitim" do povo mineiro. É a "roça grande" (palavras de uma nativa muito especial), tem praticamente de tudo que uma grande metrópole oferece com resquícios daquele ambiente agradável de cidade de interior. Pouco a descrever sobre a nova cidade que escolheu, uma vez que ainda faz uso intenso de GPS para ir e vir. Entretanto, a certeza que terá muito tempo para conhecer a terra que, em breve, será berço de sua família.