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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O significado de ser MOTOCICLISTA

Muitos acham que vestimos aquelas roupas de couro apertadas, desconfortáveis, capacetes coloridos apenas para chamar atenção.

Mas uma vez que as viseiras fumês são levantadas, o que se vê são olhos bonitos, limpos e cheios de lágrimas; olhos onde você poderia se perder neles, chegar em suas almas e ver o quanto pura elas são.

Tirando nossas roupas de couro e capacetes, você verá que somos como crianças grandes, nada mais que isso…

Gostamos da vida, de carne, cerveja e tudo que é bom.... Mas também continuamos procurando pela mãe quando as coisas dão errado…

Tem gente que diz que quando montamos em nossas motos, anjos e demônios vão conosco!

Pode até ser verdade. É um tipo de dualismo que faz esse estilo de vida ser tão rico em emoções, que fazem seu coração bater mais rápido, parecendo que vai sair pelo peito a qualquer momento...

Demônios fazem você acelerar.... Irracionais e violentas aceleradas, na hora que a adrenalina corre direto pelo corpo e você fica tremendo por vários minutos...

Anjos carregam com eles a face e as vozes dos que não estão mais conosco; vozes da experiência, que por vezes foram forjadas por ossos quebrados, mas que nos fazem pensar o quanto pode ser doloroso a brincadeira.

Sim é verdade que você pode morrer pilotando uma moto; isso pode acontecer com qualquer um de nós... E machuca, REALMENTE MACHUCA.

Mas nada se compara à quantidade de lembranças fantásticas, em "flashes", que duram uma eternidade de risadas e que deixam a vida muito mais alegre... Risadas altas e profundas que vem do coração, tão altas que fazem o sol brilhar num dia nublado.

Converse com qualquer um de nós. Peça para contarmos uma história de um dos nossos últimos passeios... Alguma curva da estrada de sua montanha preferida ou alguma viagem e você se perderá naqueles olhos sorridentes, naquele sorriso natural que, gradualmente, se espalha pelo rosto inteiro.

Mas converse com qualquer um de nós e pergunte como a vida seria, se algum dia tivéssemos de desistir de nossa paixão... Tudo que você irá escutar é o som do silêncio. E verá que aquele rosto sorridente do "garoto" ficará vazio...

Sim, você pode morrer em uma moto, mas acredite, não há melhor jeito de se viver o pouco tempo que nos é dado!

E se você não entendeu nada até agora, não se preocupe, você nunca entenderá!

Mas se um dia você estiver na estrada, com sua família na segurança de seu carro, e UM DE NÓS passar vagarosamente, e o seu filho, sentado no banco de trás, virar a cabeça e acenar, empolgado, cumprimentando o motociclista...

Não tente entendê-lo...

Ele, com toda sua inocência, vê em nós uma centelha de algo que você nunca reparou!

E pode ter certeza que o motociclista acenará também. Não há nada de errado nisso, pois você sabe que...

ANJOS, NA TERRA, SE CUMPRIMENTAM!

Autor: José Carlos Ramalho – Bodes do Asfalto

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um punhado de sucintas críticas, um post cinematográfico

127 Horas (127 Hours) - Maravilhosamente aflitivo. Uma aula de perseverança, de vontade de viver. Testa o ser humano quando a vida está por um fio, ou por um braço.

A Rede Social (The Social Network) - Genial, literalmente. Vários crânios, muitas intrigas, drogas, festas e um império chamado incialmente thefacebook.com.

Os Bons Companheiros (Goodfellas) - Mafioso de qualidade. Martin Scorsese retrata muito bem as entranhas da máfia italiana, como os Gângsters valorizam e matam a família. Joe Pesci atua de forma ímpar e é um dos responsáveis pela palavra Fuck ter sido usada aproximadamente 300 vezes no filme.

O Grande Lebowski (The Big Lebowski) - Hilário. Depois de uma decepção com os irmãos Cohen (Onde os fracos não tem vez - No country for old men), um bom filme, tendo Jesus (John Turturro) como destaque - http://www.youtube.com/watch?v=p6H9-bj7vb8

Três Homens em Conflito (The Good, The Bad and The Ugly) - Clássico é clássico! Clint Eastwood ainda na faixa dos 20-30 anos, um faroeste imperdível. Italian Epic Spaghetti Western de 1966.

Bonnie e Clyde (Bonnie and Clyde) - Bom fora da lei com toque romancista. Um filme chocante se imaginamos que é de 1967, vale a pena acompanhar o casal de bandidos que aterrorizou os Estados Unidos durante a Grande Depressão. Revolucionou a indústria de Hollywood pela aceleração, pela agilidade na mudança do tom das cenas.

Meia-noite em Paris (Midnight in Paris) - Uma linda viagem. Meu primeiro Woody Allen me impressionou, apresentando a Paris dos anos 20/30.

Assalto ao Banco Central - Boa trama, bela grana. Interessante ver que só os inteligentes e/ou espertos sobrevivem.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Jovem casal

É hora do almoço, pausa sagrada
Ambos com uniforme do colégio
Brigam por um celular
Não comem nem a salada

Ela emite sinais de afeto e carinho
Ele só tem olhos para a tela
Troca senha, twita e dispara torpedos
Em vão ela manda um beijinho

Coca Normal e Coca Zero
Hoje é quarta-feira
E daí?
Nada de papo até aqui

Pouco proseiam, teclam em demasia
O strogonoff chega
Ninguém nota, esfria
Juventude conectada e vazia

Extremamente frágil, paradoxalmente forte

Observar a fragilidade do ser humano é um processo trivial. Como bem relata Alain de Botton em "A arte de viajar", basta se colocar em uma situação onde o sublime seja observado. "Em comparação com os três, o homem parece mero pó postergado: o sublime como um encontro prazerozo, até mesmo inebriante, com a fraqueza humana diante da força, da idade e das dimensões do universo." Uma vasta paisagem, uma imensidão de montanhas rochosas, o pôr do sol ou o céu estrelado, e perceberá o quanto você, ser humano, é pequeno, para não mencionar imperceptível.

A fragilidade aparece em muitos aspectos de uma vida, pode aflorar de forma distinta em diferentes pessoas, ou até mesmo diferente em distintos momentos para um mesmo ser humano. Uns desabam quando perdem o emprego, outros se desesperam quando ficam de recuperação na escola, enquanto alguns entram em pânico pela simples derrota do time do coração na rodada do final de semana. O "frágil" que traz sustentação ao texto é muito mais profundo que o retratado nos exemplos do parágrafo.

O sentimento da perda de um ente querido, por exemplo. Ou mesmo a remota possibilidade de que ela ocorra, leva a um estado de impotência, incapacidade, da mais real e assustadora fragilidade humana. Não há bem material capaz de trazer tamanha carga emocional que a probabilidade de não poder mais ver, tocar ou ouvir. Não é natural tal passagem para os meros mortais. Instantaneamente vem a negação, o "Por que comigo?". Não muito depois vem o "Devia ter aproveitado mais...". O telefone toca e imediatamente o coração chega próximo à boca. Ateus passam a crer em Deus, os mais céticos se apegam a uma fé que nunca imagiram ter. Famílias se unem como nunca e a união literalmente faz a força, corroborando o antigo jargão.

Por mais contraditório que possa parecer, deve ser essa escancarada fragilidade que traz força ao ser humano. Uma força interior, poderosa, que motiva a encarar de frente problemas aparentemente insolúveis. Basta assistir a série Sobrevivi ou os filmes 127 horas e Vivos para entender que força é essa. Ingerir a própria urina e comer carne humana parecem atos comuns quando o instinto de sobrevivência está em jogo. No momento que não há mais saída, que todas as soluções possíveis foram testadas, o homem é levado a um patamar de superação que transcende o senso comum, contraria todas as regras da Física e da Medicina. Ao que tudo indica essa vontade de viver não é uma dádiva concebida a poucos, estranho seria se assim fosse. Interessante, então, seria poder usar e abusar de tal virtude. No trabalho, nos relacionamentos familiares, amistosos e amorosos, em suma, para viver. Não apenas quando a vida dá sinais que está indo embora.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

NATURAlmente bagunçado

Morei quase 15 anos no Estado de São Paulo, sendo 5 na capital paulistana. Inúmeros shows, peças de teatro, eventos culturais e de entretenimento em geral. Alguns notáveis como U2 e AC/DC, ambos no Estádio do Morumbi, e o Skol Beats no Anhembi. Fantasma da Ópera e Miss Saigon, espetáculos dignos de admirar emocionado, ambos no Teatro Abril. Outros menos famosos, mas igualmente memoráveis, como Danilo Gentili e Rafinha Bastos quando ainda apresentavam stand up comedy em um boteco escondido no Itaim. Agora residente nas Minas Gerais, tentarei prestigiar a programação local, aproveitando a onda de grandes eventos que toma conta de todo o país. Por vezes ainda há certa concentração no eixo Rio-São Paulo, o que me obriga a pegar um vôo para ir até onde antes ia de carro ou táxi. É fato que tais ocasiões funcionam como meras desculpas para voltar, rever os colegas, amigos e a família.

Vincular uma marca a uma celebridade ou evento tem seus óbvios benefícios, mas carrega consigo evidentes riscos para a imagem corporativa. Uma celebridade pode, no dia seguinte a veiculação de um comercial que custou milhões ao anunciante, cometer um deslize em sua vida pessoal e comprometer toda a meta de vendas de determinado produto ou serviço. A organização de um evento segue o mesmo raciocínio quando imagina-se o cenário ruim, com boa probabilidade de arruinar a imagem de uma marca, ainda mais em tempos de internet e suas redes sociais.

Já havia me decepcionado com o show da Amy Winehouse, no início desse ano. Não só pelo deplorável estado de saúde da brilhante contora inglesa, mas pelo simples e inaceitável fato de não ter cerveja em um evento patrocinado por uma das maiores cervejarias do mundo, a Inbev. Para efeito de registro, segue o que ouvi de um atendente do bar: "o pessoal foi comprar cerveja ali e já volta".

Recentemente fui ao Festival Natura Nós about Us, com planos para acompanhar os shows de Jamie Cullum e Jack Johnson, além de uma aspirante a nova musa do Jazz que não me recordo o nome. O festival, como o próprio nome sugere, é uma ação de Marketing da empresa de cosméticos brasileira Natura. Para relatar a desagradável experiência que tive em tal evento de forma imparcial, descartarei o tempo que demoramos para chegar até a entrada do estacionamento, entendendo que a Prefeitura é quem deveria proporcionar ao cidadão a infraestrutura apropriada.

O show foi na Arena do Jockey. Aproximadamente 1 hora o tempo contado entre o pagamento do estacionamento e a entrada no local do show. Uma vez estacionado o carro, o que ouvimos foi: "Vocês vão demorar umas 3 horas para sair no final do show". A poeira era tanta que mal se podia respirar caminhando pelo estacionamento. Chegando ao local do evento, obviamente tendo perdido completamente 2 dos 3 shows que pretendíamos acompanhar, a máquina do cartão de crédito não funcionava e só aceitavam dinheiro, mesmo com uma placa enorme da bandeira Visa no guichê. Chegando ao bar: "Cerveja só quente campeão!" Encaramos Heineken com gelo. Jack, enfim, começou a cantar com os pés descalços seus grandes sucessos.

Como é possível aproveitar um show com o comentário do segurança do estacionamento em nossa chegada? Não sei, pois não conseguimos fazê-lo. Ouvimos 9 músicas, talvez 11, seguramente não passaram de 15. O fantasma da partida nos assombrava, "Quanto tempo será que dura o show?", "Vamos ficar perto da saída?", "Acho que o show dele deve durar 1h30". A sorte é que São Paulo tem outros encantos que me ajudaram a "pagar" o custo da viagem. Família e amigos fizeram e sempre farão valer a pena. A outra sorte é que o Boticário cresceu, não há necessidade de comprar produtos da Natura até que essa fatídica saga saia da minha memória e vire apenas mais um "causo" a contar na mesa de um bar, com cerveja gelada por favor. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Més que un club

Meu interesse em acompanhar jogos de futebol é inversamente proporcional à minha idade. Os motivos, simples e diretos, são: Baixíssimo nível técnico e desinteresse por parte daqueles que recebem milhões de euros/dólares/reais por ano para vestir a camisa do seu time de coração. Já não acompanho como antes meu querido tricolor por tais motivos, embora ainda tenha um Rogério Ceni para me brindar conforme já relatado aqui em outros posts.

Nas últimas semanas, para agravar minha situação, acompanhei três jogos do Barcelona na Liga dos Campeões 2011. Se, por um lado reencontrei o conceito que modestamente tenho sobre o que significa o futebol, por outro aumentei meu desânimo por acompanhar o futebol brasileiro. Sempre tive como referência de performance o São Paulo de 91 e o Palmeiras de 93, times que passavam pelos adversários sem tomar conhecimento e, por vezes, sem o menor respeito. O Barcelona de Xavi, Iniesta, Messi e cia está acima de tudo que já vi ou reverenciei, inclusive o tricolor do Telê e o Palmeiras do Luxemburgo. A raça e liderança de Puyol, a truculência de Mascherano, a eficiência de Xavi, Daniel Alves e Iniesta, o faro de gol do jovem Pedro e o talento ímpar do argentino Messi seguramente encantam até mesmo o mais fanático torcedor do Real Madrid.

O Barcelona usa como filosofia o ponto central dos trabalhos de um velho conhecido nosso, Carlos Alberto Parreira: a posse de bola. Não existe pressa, não existe desespero, não importa o placar, não importa se o jogo é em casa ou fora, não importa o adversário, enfim, nenhuma variável importa quando Guardiola define sua estratégia de jogo. Manutenção da posse de bola o maior tempo possível. Toquem a bola pacientemente até o ataque. Não tem espaço? Recuem, comecem de novo. Devem ser essas as palavras de ordem no treino, em bom espanhol ou catalão.

José Mourinho, tido por muitos como o melhor do mundo na função, sucumbiu aos encantos do adversário. Como aquele menino franzino que foge da primeira briga na escola, se amedrontou diante da superioridade azul-grená. Foi covarde em pleno Santiago Bernabéu. No jogo de volta em Barcelona, quando o destino já estava selado, fingiu não temê-los. O fortíssimo Manchester United, jogando em "casa", deu ares de que poderia tirar os nervos catalães do sério. Impressão que caiu por terra em meros 8 minutos de partida. Já se vão mais de 3 anos que sequer um time consegue marca superior à do Barça no quesito posse de bola durante toda uma partida.

O segredo de todo esse sucesso é simples a olho nú, mas demanda planejamento, investimento e paciência. A grande maioria dos jogadores saem das "canteras", as divisões de base do clube. Ali os garotos são blindados de empresários ganaciosos, para que possam apenas treinar e absorver a cultura do Barça. A maioria dos garotos é de origem espanhola, o que também ajuda a explicar o sucesso da seleção local na última Copa. O técnico também é prata da casa, conhece os caminhos dos centros de treinamento e do Camp Nou.

Como se todos adjetivos empregados até aqui não fossem suficientes, eis a apoteose da final em Wembley, Londres. Carles Puyol, capitão da equipe, é deixado no banco de reservas no jogo mais importante do ano. Reclamações? Irritação? Cara amarrada? Não para um líder do calibre dele. Torcedor empolgado que mesmo do banco transmitia sua emoção e liderança aos companheiros. Aos quarenta e tantos minutos Pep Guardiola, em uma daquelas atitudes que só os grandes de espírito têm, chama seu capitão para entrar em campo, colocar a braçadeira e levantar o troféu mais importante da Europa. Puyol entra em campo, coloca a braçadeira, joga menos de cinco minutos e já parte para o abraço coletivo de comemoração de mais um título. Em um gesto nobre, saca a faixa de capitão e gentilmente a cede ao francês Abidal, que poucos meses antes descobrira um câncer no fígado e retornara aos gramados dias atrás, depois de quase abandonar o esporte. Um exemplo de liderança que só ouvimos falar ou estudamos na escola. Um ato de grandeza adequado para coroar a história de um dos melhores times de futebol de todos os tempos.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

AC/DC - Antes de Ceni/Depois de Ceni

Nem mesmo o mais sonhador torcedor tricolor poderia imaginar uma apoteose tão perfeita. Os deuses da bola reservaram o dia 27 de março de 2011, aproximadamente 17h10, 9 minutos do segundo tempo de jogo. Escolheram a dedo, com carinho para que o primeiro gol de falta de Rogério Ceni contra o arqui-rival Corinthians fosse o centésimo de sua carreira. A bola está parada, não na marca da cal como fizera um dia o milésimo o maior de todos, Pelé. Ela está onde ele mais gosta ou como mesmo definiu: "Como tudo começou". A tensão e a situação tirariam qualquer um do sério, mas não Rogério Ceni. Não é um sujeito que trabalha com a sorte. Não tem um dom, apenas dedicação ferrenha àquilo que se propôs a fazer da vida. Todos no campo e na telinha, exceto os alvi-negros corintianos, torcem e sonham para que a bola entre. Ele, o M1T0, se concentra. A maioria das vezes é, como desta vez, a única chance em 90 minutos para fazer o que os demais jogadores podem fazer a todo instante. Nesse caso, um lance para cravar seu nome mais uma vez na história do futebol mundial.

Rogério Ceni é a mais fiel tradução do significado da palavra Ídolo. Funcionário exemplar, não saem notícias de que faltou a um treino, reclamou de algum companheiro ou do clube que paga suas contas, de que foi visto bêbado ou em um baile funk. Jamais vestiu outra camisa senão a do clube do coração. Conquistou todos os títulos possíveis que um jogador de futebol pode almejar: Estadual, Brasileiro, Libertadores, Mundial sendo eleito melhor em campo, Copa do Mundo e maior Goleiro-Artilheiro da história, pra ficar nos mais importantes. Como se isso não bastasse, ele ainda pediu You Shook Me All Night Long (AC/DC) no Fantástico! (http://www.youtube.com/watch?v=NJv_JjzFGdE). Nada de pagode, axé, sertanejo ou música gospel, é Rock and Roll babe!

"Goleiro fazer 100 gols é mais difícil que atacante fazer 1000 gols" - Milton Neves. Embora não seja simpatizante de tal jornalista, talvez realmente seja verdade sua afirmação. Até agora Romário e Pelé fizeram 1000 gols, enquanto apenas Rogério Ceni conseguiu fazer 100 gols. Sem contar que Túlio Maravilha continua em ação, aceitando todo tipo de amistoso para chegar ao milésimo! Em tempo, antes que invejosos de plantão se manifestem, não estou aqui comparando coisas incomparáveis, apenas relatando fatos. Pelé foi o maior de todos independente do quesito que se avalie. Abençoados foram nossos pais e avós que o viram desfilar com a 10 do Santos e da Seleção Brasileira.

Respeitar e reverenciar ídolos é algo que não estamos muito acostumados a fazer. Achamos, com excessiva frequencia, que a "grama dos outros é sempre mais verde que a nossa". Americanos e europeus sem dúvida nenhuma o fazem infinatamente melhor que nós. Basta visitar o museu do Santiago Bernabéu ou do Camp Nou para entender a importância que os clubes dão a sua história. Benditos nós, brasileiros e não apenas tricolores, poder ver um expoente tão singular da história do esporte bretão em plena atividade. Está aí, no Morumbi ou na TV todas as semanas, a oportunidade de aprender a valorizar o que é nosso.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Minha primeira "Long distance"

Não fiz o podcast como inicialmente planejado. Tive medo. Não sei especificamente do que, mas provavelmente da distração. Moto não é como carro, não dá pra coçar as costas ou ouvir aquela música que você gosta enquanto pilota. Administrar uma máquina de duas rodas com mais de 200kg no braço exige perícia, prudência e muita atenção.

Calça de motoboy contra a potencial chuva, botas com biqueira de aço e solado anti-derrapante recém adquiridas, neck para controlar o frio do vento na cara, jaqueta antiga mas virgem e uma oração como proteção. Era tudo que eu tinha naquela sexta pela manhã ao ligar os motores da minha moto. Jamais havia tomado uma estrada com previsão de pilotar por mais de meia hora pela frente. Aula teórica de pilotagem em grupo ministrada pelo sogro na noite anterior e pé, ou melhor, mão na estrada.

Saímos Pedro, eu e Bernardo, nessa ordem rasgando a BR 040 sentido Rio de Janeiro. Nosso destino era Petrópolis, encontro nacional da Harley Davidson Brasil em 2010. Na saída, como que para efetivar o batismo, um transporte ilegal de carga nos brinda com um congestionamento cansativo para o braço esquerdo. O tempo, em contra partida, ajuda. A chuva ameaça mas não cai, o que contribui bastante para o bem estar de motociclistas equipados como nós.

Passado o primeiro empecilho, encaramos 1h30 a uma velocidade média de 100km/h até a primeira parada no Roselanches, proximidades de Barbacena-MG. Parada para abastecer, encontrar outros aprceiros de estrada, ir ao banheiro, comer um pastel e principalmente esticar o lombo. As nádegas sofrem com a baixa circulação enquanto costas, braços e pernas reclamam da posição do corpo ou da manete do câmbio. Em viagens de moto recomenda-se uma parada a cada 1h ou 1h30. A justificativa é que as dores podem fazer com que você preste menos atenção aos percalços do caminho, com consequencias tão imagináveis quanto trágicas. Incrível o que uma paradinha estratégica e rápida é capaz de fazer, reinicializa seu sistema e te deixar apto para os próximos 100-150km.

A segunda parte da viagem, a mais bonita, foi tranquila. Pude desfrutar melhor da sensação de liberdade que só pilotar uma moto pode proporcionar. Contemplar a linda vista da serra carioca depois de Juiz de Fora-MG e torcer para a gasolina não acabar foram os dois últimos prazeres antes de chegar a Petrópolis-RJ. Primeira etapa completada, quase 400km sem contar a volta, era hora de bacalhau e vinho verde português para celebrar e planejar as próximas viagens.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mudanças de uma vida

Em números, friamente, é a quinta vez que muda de cidade, décima oitava de endereço completo com CEP. Em pouco mais de 30 anos de vida, as médias são, aproximadamente, 1 cidade a cada 6 anos e 1 casa/apartamento a cada 2 anos. Nômade parece o apelido mais apropriado, embora nunca tivesse sido efetivamente empregado. Apelidos, aliás, também merecem registro estatístico - somam 4 no total.

Nasceu em Foz do Iguaçu-PR, divisa com Ciudad del Este-Paraguai (na época Puerto Stroessner) e Puerto Iguazu-Argentina. Foz é uma cidade pequena, mas com inúmeros encantos. Paraíso do comércio internacional praticamente livre de impostos, santuário da Mãe-Natureza e grande produtora da energia que move o país são adjetivos que a engrandecem a ponto de ser definida, de certa forma, grande. Ali teve infância e adolescência intensamente vividas, personalidade definida e objetivos, embora não muito claros, traçados.

O vestibular se aproximava e uma solução drástica era necessária, mudar de cidade pela primeira vez. Uberaba-MG, triângulo mineiro, terra do gado zebu e do temido colégio Zé Ferreira. De segunda à sábado, sendo que duas vezes por semana em dois períodos, esse foi o ritmo de estudos durante todo o ano de 1996. Exercício físico apenas uma vez por semana, almoço com avós paternos outro dia e estudar muito, era basicamente a agenda de uma semana típica. Além da Expozebu, tradicional evento que agita a cidade anualmente em maio, não teve muito tempo para explorar o que o berço dos seus pais tinha a oferecer, já era tempo de seguir para a próxima escala.

Campinas-SP era, no início de 1997, para alguém vindo do interior do Paraná, a síntese da cidade grande: Oferecia de tudo, inclusive um punhado de medo aos que vinham do interior. Junto com a primeira semana, veio o primeiro assalto, bastante animador para alguém na casa dos 17 anos de idade. Campinas lembra em parte a capital do estado onde nasceu, sociedade fechada, elitizada, que não se considera do interior. Se a capital é São Paulo, teria ali um braço de mar? A cidade teve papel importante, decisivo em sua formação como pessoa e profissional. Ali construiu laços eternos de amizades verdadeiras. Ali também, no centro da cidade, encontrou os primeiros desafios da vida: pela primeira vez estava realmente sozinho, o primeiro emprego, a primeira perda (http://bit.ly/c5axLv), inúmeras decisões e muito crescimento.
Em cidade grande tudo acontece muito rápido e, quando menos esperava e nunca imaginara, Campinas ficara pequena. Haviam, então, apenas duas alternativas: Anhanguera ou Bandeirantes, ambas com um único destino, São Paulo-SP. A cidade em si já não assustava no quesito tamanho mas desafiava, incentivava a levar sua vida, principalmente profissional, a um outro nível. A capital paulistana fervilha como poucas outras no mundo e, me perdoem os fãs da Big Apple, é de fato e de direito a cidade que nunca dorme. Quando já não achava possível formar outra turma de amigos como outrora em Foz e Campinas, veio a grata surpresa de novas amizades para a vida toda

Viver longe da família de sangue o fez contabilizar, até aqui, três ou quatro outras famílias por pura escolha, afinidade. A certeza de não se sentir só em vários cantos do mundo é resultado de amizades bem aproveitadas, vidas compartilhadas e histórias pra contar (http://bit.ly/cD18Sd).

Mas a vida, assim como o futebol, é uma caixinha de surpresas. Quando as mudanças pareciam não ter mais um porquê, eis que o sentido é criado e novas mudanças pintam. Embora não exista mudança similar à anterior, essa última tem motivação muito distinta de todas as outras. Enquanto estudos e objetivos de cunho profissional nortearam as andanças até aqui, o coração resolveu tomar as rédeas da situação e, de certa forma, selar o destino. Belo Horizonte-MG é famosa por seus morros e bares, assim como pela hospitalidade e "jeitim" do povo mineiro. É a "roça grande" (palavras de uma nativa muito especial), tem praticamente de tudo que uma grande metrópole oferece com resquícios daquele ambiente agradável de cidade de interior. Pouco a descrever sobre a nova cidade que escolheu, uma vez que ainda faz uso intenso de GPS para ir e vir. Entretanto, a certeza que terá muito tempo para conhecer a terra que, em breve, será berço de sua família.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

é de jijoca pra jeri, ouuuuuuuu

Dentre as versões para o significado da palavra Jericoacoara, proveniente do Tupi-Guarani, destaco as mais relevantes de acordo com o pai dos burros da era digital: "morada das tartarugas" e "lugar onde os jacarés dormem". É provável que a primeira seja a correta, pois ela aparece mais bem localizada quando a busca é feita no Google. Não vi jacarés, muito menos tartarugas, na minha primeira viagem até esse paraíso cearense, brasileiro e, porque não, do mundo inteiro.

Jeri, para os íntimos, foi eleita diversas vezes a praia mais bonita do Brasil. Recentemente o jornal americano The Washington Post a colocou no hall das 10 mais do mundo. A aclamação por um veículo de mídia estrangeira combina bastante com o cenário que vemos quando pisamos lá na pontinha nordeste do Brasil. Italianos e espanhóis dominaram o lugar, ou melhor, compraram a vila. Uma das formas de obter cidadania brasileira é através de investimento, parece que os latinos do velho mundo entenderam bem essa idéia. Eles estão em praticamente todas as pousadas, restaurantes e não é difícil vê-los pilotando seus próprios mono-motores ou despachando nas prefeituras municipais da região.

Jeri também é o epicentro global do kitesurf. Em época de pouco vento (primeiro semestre), você se pergunta como é possível ventar mais. Amantes do wind e do kite de todos os cantos do mundo rumam pro litoral cearense todo ano atrás do melhor vento. Esportes na água são, por natureza, fascinantes. O contato com ela, a mãe Natureza, é profundo, intenso e prazeroso. É fácil encontrar no ClubVentos (clube de windsurf local) senhores e senhoras com 60 ou até mesmo 70 anos praticando o melhor esporte de todos, viver intensamente a vida, um brinde ao pôr do sol!



Jeri é uma vila localizada a aproximadamente 300km da capital Fortaleza, sendo que os últimos 30 ou 40km são de areia. Tendo o sudeste do país como ponto de partida, é uma viagem tão longa quanto voar até o velho mundo. Chegando ao aeroporto Pinto Martins, você tem algumas opções: 1. Contratar um transfer em 4x4; 2. Pegar ônibus e depois jardineira. 3. Alugar um carro e contratar um nativo pra guiá-lo na parte final do trajeto. A mais barata é a opção 2, que leva aproximadamente 7 horas. A mais cara é a opção 1, que leva 4h30. A opção 3 não é recomendada devido ao risco do barato sair caro. As locadoras de veículos mantém fotógrafos na vila com o intuito de fazer você cumprir com o contrato de locação, que explicitamente menciona a proibição de meter o carro na areia. O ideal é contratar um 4x4, principalmente se o grupo for de 4-6 pessoas.

Essa grande distância da civilização, ao que tudo indica, contribui muito para manter os ares rústicos que conferem charme à vila. Ruas de areia que só buggys, veículos com tração 4x4 e as legítimas havaianas encaram, culinária local que passa por galinha caipira, carne de sol e frutos do mar, além de hospedagem substancialmente em pequenas e acolhedoras pousadas garantem o descanso merecido das férias.

As inúmeras lagoas de água doce merecem um parágrafo a parte. As chuvas no primeiro semestre garantem a perpetuidade de oásis (como seria o plural disso?) que se formam no meio das dunas. Do paraíso, Tatajuba e do coração, pra citar as mais famosas. A do paraíso é a materialização da praia de água ddoce, com redes dentro da água e passeios de barco a vela. A do coração é realmente o que parece, um coração. Com água que mais parece Coca-cola, é também ótima opção para a primeira vez no sandboard.



No que toca gastronomia, a vila também apresenta seus encantos. Desde o típico ao refinado, passando por uma velha e boa pizza e um primoroso ceviche. "na casa dela" você encontra carne de sol, arroz de leite e manteiga de garrafa, mas cuidado, o lugar é infestado de sapos apesar de muito charmoso. No Chilli Beach, único na praia da malhada, o chef é escocês e a carta de vinhos bem variada. No Bistrogonoff, na rua do Café Brasil, a pedida é um camarão recheado com provolone que serve muito bem duas pessoas. O Tamarindo lembra o Figueira de São Paulo, com uma linda árvore integrando o salão, além de luminárias diferenciadas a base de garrafas de vinho. Independente da escolha, guarde um espaço para a famosa e deliciosa torta de banana da Tia Angelita.

Em tempo, não esqueça de apreciar a caminhada à Pedra Furada e de subri a Duna do Pôr do Sol. Ufa! Jeri é tudo isso e muito mais! Pra resumir e complementar palavras, nada melhor que "Cheguei Jeri", de Sérgio Duá - http://www.youtube.com/watch?v=wk8jBDAXbJc

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ah, o Rio de Janeiro...

Difícil escrever sobre um lugar tantas vezes descrito em poemas, desenhado e estampado, versado em músicas e fotografado por lentes do mundo inteiro. Histórica, praiana e relaxada, assim é a cidade do Rio de Janeiro aos olhos desse que rascunha um simples texto. Um lugar abençoado pela natureza, correndo sério risco de ser pouca coisa pra descrever o que os olhos ali podem ver.

É triste perceber que a maioria dos brasileiros que não conhece o Rio tem medo de lá, sente calafrios com a simples menção ao tão belo nome que deram à cidade maravilhosa. Esse medo é aquele mesmo que você, morador de qualquer grande cidade do país, sente ao botar o pé na rua. "Imagina? Tá louco?", alguns acabaram de pensar, se não o falaram em alto e bom som. Apostaria que passam horas a fio em frente a televisão consumindo programas estilo Datena. Há muito tempo procuro assistir menos televisão, fruto da falta de tempo ou mesmo de outras prioridades quanto ao meio para obtenção de informações. Sortudo por padecer cada vez menos desse "mal", posso aproveitar sem ressalvas o que o Rio tem a oferecer.

Capital do Brasil Colônia, a cidade carrega muito da nossa história. Um passeio pelo centro, Paço Imperial, Igreja da Candelária, Confeitaria Colombo e você, além de admirado, terá conhecido um pouco mais sobre nós mesmos. Para fazer a transição entre o histórico e a praia, aproveitando que está no centro, faça o passeio de barco pela Baía de Guanabara. Além de uma linda vista da cidade, você complementará os conhecimentos históricos com interessantes detalhes pós chegada da corte portuguesa em 1808.

Cansou de história, do trabalho ou da mulher? A praia está sempre lá, pegue uma onda, dê um mergulho ou simplesmente sente na areia e peça Biscoito Globo e Matte. Existe praia badalada, com gente bonita e famosa, e também praia que a gente, mesmo com todos atributos possíveis, é um mero detalhe. Do Leme ao Pontal, como cantou um dia o saudoso Tim Maia, ou do Leblon ao Recreio na versão limitada do blogueiro, a orla carioca é estonteante.

Saia da praia e continue curtindo o Rio. Lagoa, Cristo, Pão de Açúcar, Jardim Botânico ou, se preferir, apenas caminhe em busca de uma casa de sucos, Sorveteria Itália ou do chopp do Bracarense. Não deixe, em hipótese alguma, de provar dois dos infinitos sabores do sorvete carioca: Queijo com goiabada e Torta Alemã. Anoiteceu? Esqueça a balada ou a boate, vá pra night em Ipanema ou na Urca.

Dentre essas e outras que me encantam no Rio, nenhuma supera o clima. Não aquele que você consulta no climatempo ou vê no mapa holográfico do Jornal Nacional. É o clima descontraído que um lugar com a geografia da cidade maravilhosa oferece. Correr na orla pela manhã, mergulhar ao meio-dia, surfar ao entardecer, por que não? Todo o necessário está ali, o mar, a praia, o astral, aproveite!

Rio, tão bonito, tão perto.