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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Més que un club

Meu interesse em acompanhar jogos de futebol é inversamente proporcional à minha idade. Os motivos, simples e diretos, são: Baixíssimo nível técnico e desinteresse por parte daqueles que recebem milhões de euros/dólares/reais por ano para vestir a camisa do seu time de coração. Já não acompanho como antes meu querido tricolor por tais motivos, embora ainda tenha um Rogério Ceni para me brindar conforme já relatado aqui em outros posts.

Nas últimas semanas, para agravar minha situação, acompanhei três jogos do Barcelona na Liga dos Campeões 2011. Se, por um lado reencontrei o conceito que modestamente tenho sobre o que significa o futebol, por outro aumentei meu desânimo por acompanhar o futebol brasileiro. Sempre tive como referência de performance o São Paulo de 91 e o Palmeiras de 93, times que passavam pelos adversários sem tomar conhecimento e, por vezes, sem o menor respeito. O Barcelona de Xavi, Iniesta, Messi e cia está acima de tudo que já vi ou reverenciei, inclusive o tricolor do Telê e o Palmeiras do Luxemburgo. A raça e liderança de Puyol, a truculência de Mascherano, a eficiência de Xavi, Daniel Alves e Iniesta, o faro de gol do jovem Pedro e o talento ímpar do argentino Messi seguramente encantam até mesmo o mais fanático torcedor do Real Madrid.

O Barcelona usa como filosofia o ponto central dos trabalhos de um velho conhecido nosso, Carlos Alberto Parreira: a posse de bola. Não existe pressa, não existe desespero, não importa o placar, não importa se o jogo é em casa ou fora, não importa o adversário, enfim, nenhuma variável importa quando Guardiola define sua estratégia de jogo. Manutenção da posse de bola o maior tempo possível. Toquem a bola pacientemente até o ataque. Não tem espaço? Recuem, comecem de novo. Devem ser essas as palavras de ordem no treino, em bom espanhol ou catalão.

José Mourinho, tido por muitos como o melhor do mundo na função, sucumbiu aos encantos do adversário. Como aquele menino franzino que foge da primeira briga na escola, se amedrontou diante da superioridade azul-grená. Foi covarde em pleno Santiago Bernabéu. No jogo de volta em Barcelona, quando o destino já estava selado, fingiu não temê-los. O fortíssimo Manchester United, jogando em "casa", deu ares de que poderia tirar os nervos catalães do sério. Impressão que caiu por terra em meros 8 minutos de partida. Já se vão mais de 3 anos que sequer um time consegue marca superior à do Barça no quesito posse de bola durante toda uma partida.

O segredo de todo esse sucesso é simples a olho nú, mas demanda planejamento, investimento e paciência. A grande maioria dos jogadores saem das "canteras", as divisões de base do clube. Ali os garotos são blindados de empresários ganaciosos, para que possam apenas treinar e absorver a cultura do Barça. A maioria dos garotos é de origem espanhola, o que também ajuda a explicar o sucesso da seleção local na última Copa. O técnico também é prata da casa, conhece os caminhos dos centros de treinamento e do Camp Nou.

Como se todos adjetivos empregados até aqui não fossem suficientes, eis a apoteose da final em Wembley, Londres. Carles Puyol, capitão da equipe, é deixado no banco de reservas no jogo mais importante do ano. Reclamações? Irritação? Cara amarrada? Não para um líder do calibre dele. Torcedor empolgado que mesmo do banco transmitia sua emoção e liderança aos companheiros. Aos quarenta e tantos minutos Pep Guardiola, em uma daquelas atitudes que só os grandes de espírito têm, chama seu capitão para entrar em campo, colocar a braçadeira e levantar o troféu mais importante da Europa. Puyol entra em campo, coloca a braçadeira, joga menos de cinco minutos e já parte para o abraço coletivo de comemoração de mais um título. Em um gesto nobre, saca a faixa de capitão e gentilmente a cede ao francês Abidal, que poucos meses antes descobrira um câncer no fígado e retornara aos gramados dias atrás, depois de quase abandonar o esporte. Um exemplo de liderança que só ouvimos falar ou estudamos na escola. Um ato de grandeza adequado para coroar a história de um dos melhores times de futebol de todos os tempos.