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quarta-feira, 14 de junho de 2017

O que aprendo todos os dias com minha filha

Aprendi rápido, antes mesmo de ouvir da Joana semana passada: "celular não papai". Entretanto, como usualmente nessa vida maluca, é sempre bom ser lembrado das suas prioridades de tempos em tempos. Creio que foi pouco depois dela completar um ano de vida, deve ter evoluído proporcionalmente ao nosso processo de interação.

Nós nunca imaginamos como vai ser, e para ser sincero, no começo fazemos de tudo para continuar com rotinas anteriores, tocando a vida como ela era. Costumo dizer que ter filhos é o que mais transforma uma vida. Já saí de casa bem novo, mudei de cidade, de estado, de país, morei sozinho e com um bando de amigos, casei. Nada disso se aproxima do quão disruptivo é ser pai. A internet ajuda a te dar uma idéia, com o recente vídeo do treinador lituano de basquete que liberou um jogador brasileiro para acompanhar o nascimento de seu filho. É o auge da experiência humana.

É sublime perceber o quanto aprendo, suspeito que muito mais que ensino. Ela me faz ter melhor noção de tempo, quando tomamos o café da manhã juntos de manhã ou o "papa" a tarde. Me ensina a importância do foco, quando tenho que me concentrar nas leituras, ou da necessidade de mudar ele quando de repente tenho que virar cartunista de quadro negro. Também tenho aulas de iniciativa quando escovamos seus dentes, e de inovação quando ela ensaia o uso do vaso sanitário. Sou mestre em resiliência graças a senhorita "Não!". Aprendo a dar sem esperar nada em troca, quase que a todo instante. Ela me ensina a sorrir quando nem tudo são flores, e também a chorar por coisas pequenas. Tomo injeção de ânimo e alegria todos os dias quando voltamos cantarolando da escola.

Hoje tenho na minha agenda, devidamente registrados no Outlook:
8h15 - levar Joana no Jardim de Infãncia;
12h15 - buscar Joana;
18h30 - Jantar Joana;
20h - ler historinhas, agradecer pelo dia e colocar Joana para dormir.
Cantar com ela no carro de manhã, quando ela pede "Cagrejo" e "Foguete", é meu café da manhã - alimenta a alma e me prepara para o dia. Meio dia, ao som de "Canoa", "Galo" e "Alecrim", dou risada sozinho das experiências escolares dela: "Hoje fiz pão papai", "Bem alto", referindo-se as suas estripulias no balanço do lote. Ler "Patrick, o panda" e "Bibo no mercado" me fazem sentir tão bem que, assim que ela dorme, trabalho até 23h sem perceber - quando não durmo no processo, agora que Tomás chegou para começar tudo de novo :)

Saber que algo dura pouco é o melhor combustível para fazer você aproveitar ao máximo qualquer coisa. A noção de que algo vai acabar faz milagres (qualquer dia conto como conheço mais Shanghai que Belo Horizonte). Eu sei que daqui a pouco ela só vai querer os amigos, os amores e até vai me achar chato, grudento e/ou algo do gênero. Por isso não pretendo negociar muito essas prioridades, estou aproveitando demais essa oportunidade que a vida me deu.