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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Razões pra crer que não haverá segundo turno, espero estar enganado

Há pouco tempo escrevi um texto relatando uma das técnicas que institutos de pesquisas estavam usando para manipular os resultados. Desde então, ouvi tanta coisa corroborando o que todo mundo tanto desconfia, que resolvi esperar pra ver onde ia chegar antes de escrever algo com tag política. Sempre que pensava em escrever sobre o assunto ouvia rumores de algo pior, mais cruel e manipulador, e então resolvia aguardar.

Na semana passada tive acesso a uma análise feita por um jornalista de um dos mais renomados periódicos do país. Nessa análise o sujeito relata a crueldade da metodologia empregada nas pesquisas que temos acompanhado com mais frequencia a medida que o pleito se aproxima. Ele examina os métodos com precisão digna de um estatístico, de modo que nos brinda com um olhar clínico e crítico acerca da sucessão presidencial do Brasil.

Tentarei resumir e transformar em linguagem simples o rico estudo que graças à Internet eu tive acesso, espero que tenha sucesso. São dois os problemas apresentados por tal pesquisa, intencionalmente ao que tudo indica. O primeiro se refere às cidades consideradas na amostragem, em sua grande maioria na região Nordeste do país. O segundo é quanto ao tamanho da amostragem, selecionando proporcionalmente menos eleitores no Sudeste que no Nordeste. A título de exemplo, seria como entrevistar uma centena e meia de pessoas em São Paulo-SP frente a algumas dezenas em Garanhuns-PE.

Talvez não houvesse necessidade, mas como tenho dificuldade de saber se estou sendo suficientemente claro nas minhas explicações ou mesmo nos textos, tecerei alguns resultados decorrentes do uso de tal artifício. O presidente Lula tem alta aprovação de seu governo em todo o Brasil, índice que é ainda mais elevado na região Nordeste. É evidente induzir que em tal região Dilma leve vantagem sobre Serra, Marina, Plínio e os demais candidatos. Com Dilma ligeiramente a frente nas pesquisas, também não é difícil imaginar que a tendência era de um distanciamento ainda maior nas pesquisas seguintes. Além de um efeito psicológico que atinge, principalmente mas não exclusivamente, o eleitor menos esclarecido, há também o profundo desconhecimento de como funciona a eleição em dois turnos por boa parte da nossa população.

O efeito psicológico é traduzido nos comentários do tipo "já era, não tem mais o que fazer", enquanto o desconhecimento do processo fica evidente em "votar na Marina é a mesma coisa que votar na Dilma". Para o primeiro distúrbio, tenho ótimas indicações de pscicólogas na linha fundamentalista ou freudiana. Já quanto ao segundo, achei um vídeo muito didático. Como na tradicional pizza de domingo anoite, escolha seu sabor favorito no próximo dia 3 de outubro.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A viagem do terno

Se você nasceu homem, provavelmente já me usou. Mulheres, salvo as advogadas, jamais me usaram ou usarão, a pesar de me apreciarem bastante. Em geral sou objeto de razoável valor, embora também esteja disponível em versões populares. Sou caprichosamente desenhado, cortado e alinhado, às vezes até mesmo de forma artesanal. Você, que não me usa para fins profissionais, recorre aos meus serviços apenas em ocasiões especiais. Além de um investimento inicial considerável, continuo demandando custos e cuidados na manutenção, lavagem e armazenagem, durante toda minha vida e da sua também, desde que você não engorde.

Como eventos especiais ocorrem em todo santo lugar, invariavalmente tenho que encarar uma ponte aérea. Esse é o momento que sinto calafrios, medo do futuro que se aproxima. É fato que algumas vezes bebo mais whisky ou vodka que gostaria, mas não costumo ficar nervoso quando estou me divertindo, ou melhor, me embreagando. É inevitável pegar um vôo vez ou outra, meu usuário é parte de um grupo seleto de convidados pro evento em questão, às vezes até mesmo é um dos padrinhos.

Voltando ao tema central desse meu desabafo, saindo da lavanderia vou direto pro saco e fico ali, no armário, esperando o momento do check-in. Não posso culpar meu dono, que fura fila com cartão ouro só pra me acomodar apropriadamente. Vôos domésticos não disponibilizam nenhum mísero cabide a bordo, não adianta insistir com comissária ou chefe de cabine. Aperta daqui e dali, pronto, estou aqui no bagageiro de um Boeing, Airbus ou Embraer.

Embora saiba que raramente vai acontecer, fico na esperança de que o passageiro da janela tenha o cuidado, a sensibilidade e a inteligência de um ser humano qualquer que entenda o conceito de empatia. Definitivamente não é o que ocorre. Mesmo tendo lugar marcado lá no final, o cidadão resolve deixar a mala ali na frente com receio de não encontrar espaço lá atrás. Nessa simples decisão, ele complica sobremaneira a situação da senhorita que vem logo depois, além de me amarrotar inteiro. Ela, por causa dele, vai ter que deixar a mala mais adiante, imagine o desembarque. Não há diálogo nem tão pouco preocupação, ele me amassa contra a mala ao lado e, em 2 segundos, acaba com 2 horas de trabalho da passadeira.

No vôo de volta, 2 dias depois e com uma baita cara de ressaca, me jogo de qualquer jeito ali no mesmo bagageiro, poltrona 3D ou 4C. Já não sinto a mesma tensão e pouco importa, a festa foi fantástica. Assim como meu companheiro, quero só um bom banho e cama depois que chegar em casa. Por incrível que pareça, aquele sujeito do vôo de ida não voltou, ninguém sequer me toca. Teria a Lei de Murphy um capítulo específico para ternos?