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terça-feira, 26 de outubro de 2010

que lugar é esse?

É como se de repente trocassem as mãos das ruas, bairros novos tivessem brotado onde não parecia haver espaço, novos viadutos cortassem as principais avenidas, agora bem mais amplas, bonitas e funcionais. Aquele "caminho da roça" não existe mais como outrora, faz-se necessário encarar alguns semáforos adicionais, além de um desvio a três quadras do destino final, fruto de uma nova praça recém-inaugurada no centro. Virou cidade grande, oficialmente denominada região metropolitana. Não é difícil ouvir que nos horários de pico uma ou mais ruas ficam intransitáveis. Quase que sem querer, a cidade já tem até mesmo um anel viário formado por algumas rodovias estaduais, como as marginais já foram um dia para a capital paulista, papel hoje que cabe ao Rodoanel Mário Covas.

Alguns anos para o cérebro geram impacto similar ao que se sente nas pernas durante as peladas ocasionais, falhando em momentos decisivos. "Vou subir a próxima rua e chego na avenida". Esquece, a próxima rua não sobe mais, ou sequer nunca subiu de fato. Sete anos de vida intensa ali mesmo vividas parecem não valer nada diante dos cinco de ausência. Está ali pertinho, no inconsciente, mas parece embassado. A idade pesa pra todo mundo, e a cidade definitivamente cresceu demais.

Curioso é lembrar como em pouco tempo ela transitara entre gigante, grande, média, pequena como um ovo e agora voltara ao normal, grande, imponente, importante. Era gigante com postos de gasolina self-service, grande com Mc Donald's em toda esquina, pequena de forma a encontrar todos amigos em todas as baladas, todas as noites. E voltou a ser grande simplesmente porque nunca deixou e nem deixará de ser.

Cidadão do mundo, popularmente conhecido como nômade, sofre com as mudanças da vida. Muda e monta novo acampamento em cada nova etapa da vida, descobre um pouco mais do novo, esquece um outro bocado acerca do anterior. A vida é sim uma caixinha de surpresas, como alguém certa vez já definiu o esporte bretão. Ela, que tantas vezes apronta, porque não o faria novamente, digamos, por vingança? "Não vem mais aqui, esqueceu de mim, não me dá mais atenção. Mudei pra que tenha que voltar e me conhecer novamente".

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Riding on Powerful Music

Decidi escrever esse texto semana passada, precisamente dia 30/09/2010 às 19h00, no meio de uma aula de RPM na academia. O porquê pensei nisso ali, naquele momento de fadiga extrema, ainda não sei, mas imagino que tenha sido apenas mais um artifício para suportar a "pressão" e terminar o treino vivo. De forma breve, sucinta e desprovida de conhecimento técnico, RPM é um treino desenvolvido em cima de uma bicicleta fixa, com objetivo de melhorar a capacidade aeróbica. Maiores detalhes com quem criou a modalidade - Body Systems RPM.

O treino de RPM começa de fato quando você toma a decisão que vai encará-lo. Você não pode, por exemplo, malhar perna antes de subir na bike. Você sabe que não vai ser brincadeira, que será exigido ao máximo. Bate aquela lembrança da semana passada, você hesita, pensa dezenas de vezes. Por outro lado, lembra da empolgação da galera, da "vibe" da sala e da competência do professor, bingo, são 18h30 e você já está regulando a bike.

Não sei ao certo quantas músicas são, essa parte do meu cérebro fica inoperante tamanho esforço físico. Resumidamente é aquecimento, parte principal e alongamento. O aquecimento é composto de apenas 1 música, a parte principal tem 5 ou 6, enquanto o alongamento tem 1, ufa! Dessas 5 ou 6 da parte principal do treino, é impossível esquecer das 3 que o professor carinhosamente chama de "parte forte" do seu treino. É "pesado sentado", "aumenta a carga e sobe", "mantém e acelera" que não acabam mais, é hora de ver estrelas e sonhar com a sauna às 19h30. Depois da primeira parte forte do seu treino, não há muito que descansar, exige-se exercício moderado. No idioma do RPM, moderado não é o que parece, representa uma percepção de esforço em torno de 70%. Respire fundo, tome um gole de água, acerte a posição do seu corpo, relaxe os ombros e prepare-se para a segunda parte forte do seu treino.

Durante o aquecimento, não passa muita coisa pela cabeça a não ser "Tá tranquilo, vou dar conta". Quando a fase do "unilateral", "aperta e puxa", "quer aula vai lá pra fora, isso aqui é treino", muitas coisas passam pela cabeça daquele que pedala. Posso garantir que a 1a é: "O que que eu estou fazendo aqui?". A impressão de que você não chegará ao fim é evidente e, a essa altura do campeonato, os exercícios são executados a uma percepção de esforço muito próxima de 100%. Nesse exato instante, a postura do professor e sua capacidade de concentração são fatores primoridias para tirar o algo mais e chegar até a música de alongamento com a sensação de dever cumprido.

No quesito professor posso afirmar que sou sortudo, tenho a disposição o segundo melhor do mercado. Um parêntesis para falar do número 1, Tchelo, meu irmão. Os que não o conhecem podem imaginar que estou puxando a sardinha pro lado da família, raciocínio mais que natural. Os que o conhecem profissionalmente, sabem do que estou escrevendo. Para resumir e não fugir do tema principal do post, transcrevo aqui o que falei a um colega de trabalho semana passada no café: "Até hoje não conheci uma única pessoa que seja tão feliz no trabalho quanto meu irmão". Esse fato, por si só, traduz o benefício que os alunos podem extrair de seus treinos. Não conheço o Fábio como conheço o Tchelo, mas arrisco a dizer que também é um cara feliz com seu trabalho. Um profissional dedicado e focado em fazer com que você treine pra valer, além de fazer questão que os alunos entendam o que estão fazendo, qual músculo está sendo trabalhado, quais os objetivos de cada exercício. Acredite, isso faz toda a diferença, ajuda você a se motivar pra subir montanhas sem sair do lugar.

A concentração, como em qualquer outro esporte, também é essencial nas pedaladas. Você deve mentalizar o treino, concentrar em cada movimento e ter a certeza que os está executando de forma adequada. Essa, que parece a mais fácil, é a parte mais difícil. Está na natureza humana pensar em desistir quando a dor e o cansaço chegam de forma tão intensa. Olhe pro lado, veja que a galera está fervendo, sinta o poderoso som da música que toca, olhe pro professor pedalando pela 3a ou 4a vez no dia com o mesmo empenho, ou simplesmente sonhe com a sauna logo mais.

Disfrute o pós treino, a boa e leve sensação de dever cumprido. Um vitamina, um temaki ou até mesmo um hambúrguer, afinal você merece. Use essa lembrança final na próxima terça ou quinta, você vai precisar dela pra ajustar a bike às 18h30 e começar tudo de novo.