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terça-feira, 18 de março de 2014

Corra para a vida

Correr nunca foi natural para mim. Como boa parte dos brasileiros, ganhei uma bola de futebol quando ainda nem caminhava. De fato foram várias, umas de plástico, outras de “capotão”. Daí para a escolinha e campeonatos infantis, jogos universitários e peladas “casados contras solteiros” foi o padrão de fábrica tupiniquim.

Ocorre que o futebol maltrata a gente. Nos gramados profissionais não precisamos ir longe, basta olhar para o campeonato nacional do ano passado. Já escrevi anteriormente aqui sobre meu crescente desprezo com o esporte bretão, portanto encerro o subtema. Após certa idade, o futebol judia também do físico de quem o tenta praticar. Como esporte de contato, é agressivo a ligamentos outrora fortes, flexibilidade antes infinita.

Comecei na corrida de rua por um acaso profissional. Embalado por bons relacionamentos sociais quando ainda os desenvolvíamos de forma presencial, aceitei o desafio de criar o “Grêmio” da firma. Visando dar ânimo ao novo empreendimento me senti na obrigação de correr os primeiros 10k. Os treinos na volta interminável de uma pequena lagoa foram duríssimos, e acredito não teria completado a prova se não houvesse uma boa dose de motivação em forma de latas geladas de cevada na linha de chegada, acompanhada de churrasco com a velha e boa picanha para recuperar toda a gordura queimada.

A empolgação passou efêmera como um amor de verão. Anos mais tarde, a necessidade de uma atividade física, de manter-se em movimento, me levou a reavaliar a prática da corrida. Recém-casado, finanças focadas em outras direções, vivendo próximo a uma linda lagoa, e seguidas viagens a trabalho me levaram ao que parecia óbvio. Colocar um tênis na bagagem e sair correndo soava factível independente de quaisquer variáveis.

Já praticando de forma frequente você começa a entender o esporte. Não é fácil, o conhecimento de forma plena vem com o tempo, tênis gasto e experiência nas pistas. Entender que sua cabeça é parte determinante do processo consome algumas centenas de quilômetros  corridos. Na modalidade amadora, a disputa é só sua, e é aí que mora a beleza do esporte. Corpo e mente atuando em equipe para fazer entregar o melhor de você.


A corrida me ensinou a superar meus limites, olhar meus defeitos antes de buscar o dos outros, ter a calma necessária para que a razão tenha chance de impedir uma emoção descabida, humildade para reconhecer falhas e até controlar minha ansiedade para falar antes ou durante o processo de escutar ao próximo. Dos 10k em provas aos 12k em treinos, 18k recentemente e meia maratona nos próximos meses. É difícil acreditar no que eu mesmo dizia aos quatro ventos pouco tempo atrás: Maratona já é demais!