Páginas

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Extremamente frágil, paradoxalmente forte

Observar a fragilidade do ser humano é um processo trivial. Como bem relata Alain de Botton em "A arte de viajar", basta se colocar em uma situação onde o sublime seja observado. "Em comparação com os três, o homem parece mero pó postergado: o sublime como um encontro prazerozo, até mesmo inebriante, com a fraqueza humana diante da força, da idade e das dimensões do universo." Uma vasta paisagem, uma imensidão de montanhas rochosas, o pôr do sol ou o céu estrelado, e perceberá o quanto você, ser humano, é pequeno, para não mencionar imperceptível.

A fragilidade aparece em muitos aspectos de uma vida, pode aflorar de forma distinta em diferentes pessoas, ou até mesmo diferente em distintos momentos para um mesmo ser humano. Uns desabam quando perdem o emprego, outros se desesperam quando ficam de recuperação na escola, enquanto alguns entram em pânico pela simples derrota do time do coração na rodada do final de semana. O "frágil" que traz sustentação ao texto é muito mais profundo que o retratado nos exemplos do parágrafo.

O sentimento da perda de um ente querido, por exemplo. Ou mesmo a remota possibilidade de que ela ocorra, leva a um estado de impotência, incapacidade, da mais real e assustadora fragilidade humana. Não há bem material capaz de trazer tamanha carga emocional que a probabilidade de não poder mais ver, tocar ou ouvir. Não é natural tal passagem para os meros mortais. Instantaneamente vem a negação, o "Por que comigo?". Não muito depois vem o "Devia ter aproveitado mais...". O telefone toca e imediatamente o coração chega próximo à boca. Ateus passam a crer em Deus, os mais céticos se apegam a uma fé que nunca imagiram ter. Famílias se unem como nunca e a união literalmente faz a força, corroborando o antigo jargão.

Por mais contraditório que possa parecer, deve ser essa escancarada fragilidade que traz força ao ser humano. Uma força interior, poderosa, que motiva a encarar de frente problemas aparentemente insolúveis. Basta assistir a série Sobrevivi ou os filmes 127 horas e Vivos para entender que força é essa. Ingerir a própria urina e comer carne humana parecem atos comuns quando o instinto de sobrevivência está em jogo. No momento que não há mais saída, que todas as soluções possíveis foram testadas, o homem é levado a um patamar de superação que transcende o senso comum, contraria todas as regras da Física e da Medicina. Ao que tudo indica essa vontade de viver não é uma dádiva concebida a poucos, estranho seria se assim fosse. Interessante, então, seria poder usar e abusar de tal virtude. No trabalho, nos relacionamentos familiares, amistosos e amorosos, em suma, para viver. Não apenas quando a vida dá sinais que está indo embora.

Um comentário:

  1. #foda. o ser humano é foda. É numa situação como essa que lembramos que em diversas momentos somos mais animais que racionais. A razão dá lugar ao instinto. somos bem mais fodas que imaginamos. Concordo com tudo que disse muleque. é de marejar os olhos. ehueheuhehuheu abração...saudades!

    ResponderExcluir