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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dr. Campos

Eis que na semana passada lancei um dos muitos comentários maldosos em relação ao meu projeto: "Estão de sacanagem. É o fim do Bactrim!" Uma das variações que uso para "É o fim da picada". Um colega de trabalho imadiatamente respondeu: "Você não vai acreditar, mas foi meu pai quem inventou o Bactrim"

Nos primeiros milisegundos eu realmente não acreditei, depois me realizei. Memórias da minha mãe ordenando que eu tomasse aquele troço branco, cremoso, ruim e poderoso. Eu sabia que o Bactrim era a última instância antes do médico. Minha madrinha médica receitava ele depois do insucesso de anti-inflamatórios e afins. É a maior referência que tenho em termos de medicamento, o mais famoso, se é que cabe essa conotação. O pai desse colega era uma celebridade. O Dr. Campos inventou também o Resprin e outros mais, era realmente um mito na indústria farmacêutica brasileira dos tempos de Geisel.

Seguindo no bom papo, ele contando as histórias das experiências feitas pelo pai com as novas criações que viriam a salvar seres humanos, me dei conta de como se desenrolam os testes das novidades dessa indústria. Entre os ratos de laboratórios e os consumidores finais, estão os filhos desses gênios. Quando você abre um jornal em papel ou na tela do computador, você lê que determinada solução está sendo testada em animais, geralmente ratos, e tão logo apresentem bons resultados nos pobres coitados, testes em seres humanos serão feitos antes do lançamento comercial.  Pois bem, esses cobaias, filhos de pesquisadores, são algo entre o rato e o homem. Imagino um domingo qualquer em família: "Filho, acorde às 8, tome essa gororoba, às 9:30 vamos tirar sangue pro papai fazer uns estudos". Essa era a diversão dos filhos do Dr. Campos, e dele próprio também, creio eu.

Meu pai me falava de usinas, escavações, obras, contava empolgado sobre a grandiosidade da construção de Itaipu. Eu provavelmente darei um netbook ao meu filho antes mesmo dele caminhar, ou quem sabe um iPad, se a Apple corrigir alguns pequenos bugs.

Há dez anos o Dr. Campos nos deixou. De valor, levou com ele o sentimento de dever cumprido, de grande contribuição que deu a todos nós. Como toda grande corporação faria, ele provavelmente não foi reconhecido pelos grandes legados que deixou. Deve ter ganhado no máximo uns falsos parabéns com tapinha nas costas e um "One night in the town" de poucos dólares para ele e esposa, a empresa até hoje leva rios de dinheiro e algum diretor ou vice presidente deve ter ganhado medalha de honra ao mérito.

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