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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Por uma Copa adequada à realidade brasileira

Logo que veio a tona a notícia de que o Morumbi estava descartado como uma das sedes da Copa de 2014, comecei a me perguntar se aquela era uma boa ou má notícia. Após ler e escutar muita coisa acerca do assunto, em pouquíssimo tempo, já tinha minha opinião formada: Nos moldes propostos por FIFA/CBF, a notícia era ótima.

O São Paulo Futebol Clube é um dos poucos clubes brasileiros que ano após ano fecham o balanço no azul, se não for o único. Há tempos que o clube tem um planejamento estratégico e o executa sob a luz de aspectos técnicos e profissionais, deixando paixão e emoção apenas para as arquibancadas. Times brasileiros dificilmente atingem suas metas financeiras caso não realizem uma boa venda ao exterior. O São Paulo busca diminuir cada vez mais essa dependência, e isso passa por uma gestão mais forte nas finanças do clube, além do melhor aproveitamento das dependências de seu estádio.

As obras exigidas pela FIFA demandariam investimentos da ordem de 600 milhões de reais aos cofres do tricolor paulista. Estudos feitos pela cúpula tricolor geraram as condições para viabilizar tal cifra: Abertura e uma das Semi-finais do mundial deveriam ser no Morumbi. Tendo recebido uma negativa no que tange a essa possibilidade, o tricolor prontamente propôs redução no escopo das obras, algo como 250 milhões visando receber apenas a abertura. O desfecho final dessa negociação todos já sabem.

Existe ainda o aspecto político do clube em relação a entidade máxima do nosso futebol, a CBF, do imortal Ricardo Teixeira. Um voto "inadequado" de Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, na eleição do presidente do Clube dos Treze, sem dúvida alguma teve peso importante nesse jogo de interesses políticos, econômicos e, porque também não afirmar, pessoais. É a política do toma lá dá cá, velha conhecida dos brasileiros.

Governos estadual e municipal já manifestaram quanto a impossibilidade de contar com dinheiro público para a eventual construção de um novo estádio na capital paulista. Conforme declaração de um integrante do governo, a preferência é por investir tal montante em obras que atendam mais amplamente a população da capital, como obras viárias e ampliação do metrô, apenas para exemplificar. Em outras palavras, existem outras prioridades, postura similar à adotada pelo time do Morumbi. Não parece à toa que Estado, Município e Time sejam os mais desenvolvidos do Brasil, apesar dos pesares.

Depois de assistir algumas mesas redondas diretamente da África do Sul, teço meu último comentário a respeito do polêmico tema. Os estádios africanos não são por dentro ou mesmo funcionalmente tão encantadores quanto externamente. Relatos de sanitários de quinta categoria e estacionamentos localizados a 2 ou 3 km de distância do estádio já ouvi de diferentes interlocutores. De forma alguma quero colocar em cheque essa Copa no continente africano, ao contrário, me encanta ver a forma como está sendo conduzida, a oportunidade que o mundo inteiro está tendo de olhar nossos irmão africanos com outros olhos. Minha pergunta é por que tanta exigência apenas com o Morumbi?

A realidade brasileira, ou mesmo a africana, é muito diferente da encontrada na Europa, nos Estados Unidos ou no Japão. Somos emergentes sim, mas acima de tudo subdesenvolvidos, boa parte do nosso povo não tem o que normalmente se considera condição de subrevivência, além de termos abundância de corrupção em praticamente todos os setores da sociedade. Não podemos jogar mais lenha nessa fogueira, deixar que investimentos fora de nossa realidade sejam feitos nesse momento é pactuar com todos os problemas relatados, é no mínimo falta de compaixão com todos brasileiros. Por uma Copa adequada à nossa realidade, deixo registrada minha satisfação ao abdicar de algo "pessoal" em prol do bem comum.

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