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quarta-feira, 24 de março de 2010

O protagonista é outro gaúcho, mas todos esperam o mesmo final

A convocação final para a próxima copa do mundo está próxima e os 192 milhões de brasileiros compartilham a mesma dúvida: Ronaldinho Gaúcho vai ou não vai? Sintonize em qualquer programa de mesa redonda e essa pergunta será o foco da discussão. A argumentação principal é muito boa, visível todos os finais de semana por quem acompanha o Calccio na tela da RAI, nos jogos do Milan em sua casa, o belo San Siro. A título de informação, o estádio é municipal, dividido entre milaneses e torcedores da Inter, que o chamam Giuseppe Meazza, em homenagem a um antigo ídolo. Ambos os clubes pagam aluguel a cidade de Milão quando necessitam usá-lo. O estádio é todo dividido em vermelho e azul, desde vestiários (o da Inter bem mais moderno) até a lojinha de souvenirs. O camarote Dolce & Gabbana atende a gregos e troianos endinheirados, diferentemente da Pirelli, que aparece apenas quando o time de José Mourinho entra em campo.

Essa interrogação geral me remete imediatamente à 2002, substituindo a dupla Dunga-RG por Felipão-Romário. Naquela ocasião havia um clamor popular para que Felipão deixasse o baixinho fazer parte da família Scolari. O sisudo gaúcho tinha suas próprias crenças, estratégia muito bem definida, competência e fé no trabalho em equipe. O resultado final dessa decisão todos já sabem e tiveram que engolir antes de comemorar.

Tenho fortes indícios para crer que o Dunga não tem dúvida. Talvez o Jorginho também não a tenha. Ele também é gaúcho, também sisudo e, ao menos até agora, competente no desafio de comandar a seleção canarinho. Chegou desacreditado, ouvindo do mundo inteiro que não era técnico de futebol, tendo que liderar a melhor seleção do mundo abalada pelo fracasso do quadrado mágico na Alemanha. Contra tudo e contra todos, ele resgatou nos jogadores o orgulho de vestir a amarelinha, montou um time de futebol onde atletas e comissão técnica têm os mesmos objetivos. Você pode discordar de um jogador ou outro, mas não pode negar o sucesso do trabalho do Dunga, os números não mentem.

Dunga provavelmente não levará Ronaldinho. Ele não o vê como parte do grupo, talvez não acredite que ele possa integrar o banco de reservas, por exemplo. Ele também não aprova festas regadas a lemoncello e meretrizes na véspera de um jogo importante, questão de comportamento, vital para um típico disciplinador. Por outro lado, valoriza quem carregou o piano junto com ele, quem participou do processo de reconquistar o orgulho de nós brasileiros ao torcer. Esses comeram o pão que o diabo amassou e, em teoria, têm direito ao caviar africano.

Eu não tinha uma opinião formada até assistir alguns jogos do Milan. Meu pêndulo da decisão oscilava entre o talento nato do aspirante a vaga e a convicção de quem terá que tomar a difícil decisão. No lugar do Dunga, eu levaria o Ronaldinho. Acredito piamente no trabalho árduo e o talento me fascina. Não seria titular inicialmente, o time base do Brasil está bem definido, embora eu e muitos outros contestemos outros jogadores. Gilberto Silva é minha principal dor de cabeça quando penso na seleção, mas ouvi um papo ao pé do ouvido do Dunga com ele: "Sua situação é idêntica a minha em 94". Embora ainda relutante, vi bem o que nosso capitão fez e acredito que possa fazer sentido, só me resta torcer.

Metade do segundo tempo e nada. Marcação cerrada, jogo truncado no meio-campo, tensão total, você olha pro banco e vê um cara que pode fazer algo diferente, limpar um adversário em fração de segundos e mudar a cara do jogo. Ronaldinho Gaúcho é um reserva de luxo que nos daria um leque de opções não disponíveis hoje em nosso arsenal de guerreiros. Ele sabe que está fora do grupo, e também vê a oportunidade de ganhar uma segunda copa, de entrar pra história mais uma vez. Não creio que perderia a oportunidade de encantar a todos como em 2002, mesmo que seja pra sair do banco de suplentes.

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